Certa vez ele dissera à filha enquanto todos jogavam suas flores no túmulo de um amigo que estava prestes a ser enterrado.
- Mas isso seria como uma homenagem pai. – A filha ressaltou. – O morto se sente privilegiado.
O pai foi obrigado a rir.
– Não há privilégio na morte querida, acredite. Coisas belas devem ser entregues à pessoas vivas.
Sorriu e olhou a filha de modo carinhoso.
- Pai, eu... – Ele não deixou que ela terminasse.
- Sem discussões, ou eu voltarei! – Ela riu discretamente, sem entender direito.
– Flores são belas, refletem coisas boas, por isso nunca presenteie os que já foram assim.
Deixou bem claro a última palavra. – Quer presentear alguém, prestar uma homenagem, mostrar o quanto essa pessoa é importante para você? Faça isso enquanto ela ainda vive. – Quase gritou outra vez – Não deixe o tempo escapar. Mortos não recebem flores, filha, não enxergam, não sentem cheiro. Quando eu morrer, não deixe que joguem nenhuma pétala, ou eu volto para te assombrar!
Mas agora, enquanto acompanhava o cortejo fúnebre de seu pai e observava aquelas pessoas que nunca tinham demostrado qualquer afeto ou indício de amizade com ele, ela entendeu tudo afinal.

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